Em 08/07/2021, a convite de Vitor Galvani, sai de casa mais cedo do que gostaria e tarde demais pra minha ansiedade. Era uma manhã como outras várias em que fui ao Parque São Jorge, tirar fotos e fazer vídeos do meu Corinthians Paulista. Pra quê? Tinha a oportunidade de acompanhar os bastidores do promissor elenco alvinegro que jogaria a LDB (Liga de Desenvolvimento) em algumas semanas.
Com o fim das comidas de toco, e dos ajustes em tempo real já me posicionava com assertividade em postura de saída ao fim do treino, urgência clássica do ansioso eu. Porém, nesse meio tempo fui interceptado por Humberto (ala corinthiano no adulto) que divulgava com mais objetividade ainda:
— Tá vendo esse aí? — diz o profissional apontando pra um franzino e braçudo menino daquele timãozinho.
— Hm... Tô. — respondi tão confuso quanto interessado.
— Ele vai pra NBA! Pode filmar ele. — exclamou o veterano.
Dei uma risada, e fim de papo.
Saí, e voltando pra casa pensei mais no fato de que o Humberto me conhecia, do que na ideia de que aquele moleque teria qualquer aspiração real de jogar naquele naipe.
O prospecto profetizado era Samis Calderon.
De lá pra cá, entendi e abraçei o entusiasmo, sem contar que o filmei mais do que qualquer outro.
Costumo repetir, sem qualquer sintoma de telefone sem-fio, a mesma frase que ouvi dois anos atrás. Mais que isso, tenho Samis como amigo e cada vez mais como referência, até porque, imagina ouvir isso desde sempre e não sucumbir! É só pra quem é desse naipe...
Num dos treinos da Seleção Sub-19, questionei Samis sobre essa história. Na verdade, o papo começou com ele perguntando quantas vezes já tinha feito aquele trajeto de sempre: ir ao Parque São Jorge, e tirar fotos e fazer vídeos do meu Corinthians Paulista. Respondi que não tinha ideia, mas que lembrava do tal 08/07/2021. Pra minha surpresa, ele não! Passou batido.
Como? Por quê? Qual é a chance de você ouvir, de um vivido colega, que seu sonho vai se materializar e não guardar essa memória?
Bom, pra entender isso preciso antes explicar quem é Samis.
Samis tem sua própria frequência, das mais originais que conheço. É uma promessa de todos, só porque consegue ser uma realidade autêntica pra si.
Brincalhão e profissional, genial e desligado. Não mais franzino, mas ainda o mesmo moleque braçudo de sempre, que com timidez extrovertida conquista seu espaço.
Pra ele, ouvir que estaria na NBA passou batido, não por já saber ou por não acreditar, mas porque era mais uma manhã como tantas outras, em que ele acordara mais cedo do que gostaria e mais tarde do que deveria. Foi jogar basquete no Parque São Jorge, e por acaso ouviu uns elogios. Pra quem pula com tanta facilidade em cravadas monumentais, o equilíbrio fornecido pelo pé no chão é esssencial.
Samis não está na NBA. Tem 18 anos, e faz 19 só em novembro, sua história ainda beira o epílogo. Apresento aqui a introdução que usaria se me fosse concedido o papel e a caneta pra biografa-lá. Uma singela memória, um lapso da minha parte que rende um extenso motivado por orgulho e certeza: de que aquela não foi uma manhã qualquer, rendeu mais do que fotos e vídeos, ou ansiedades e correria.
Que bom!
Gosto muito do Samis, mas vou fazer um contraponto aqui e sendo bastante genérico:
Estrangeiro de (real) destaque na NBA, não perde tempo em college e academy. Preferiria que ele estivesse jogando o brasileiro da cbb do que disputando college D1.
Os brasileiros que tiveram relevância na nba foram profissionais antes: Leandrinho no Bauru, Nenê no Vasco, Splitter no Tau, Varejão no Franca e Barcelona, Raul no Minas e Estudiantes - isso sem falar em seleção.
Se for analisar outros estrangeiros, é a mesma coisa: todos com atuações em times profissionais e suas seleções.
Resumindo: #VoltaSamis e #VoltaEdu